quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

A Renascença e os ideais (Política e Poder)

Difícil falar dos ideais políticos do movimento renascentista sem fazer um pequeno passeio pelo movimento iluminista. Para isso, começamos relembrando alguns porquês desse último movimento.
O iluminismo ou século das luzes é datado a partir do final do século XVII, estendendo-se pelo século XVIII. As primeiras manifestações (se é que assim podemos chamar) do movimento, se dão na França através de trabalhos de René Descartes. O movimento surge como inovação aos moldes outrora estabelecidos na sociedade, tendo como objetivo principal promover a razão humana. Se antes a igreja (e Deus) centralizavam conhecimento [principalmente], agora o homem é impulsionado a participar das decisões acerca de si mesmos. Kant (1784) define o movimento da seguinte forma

O iluminismo representa a saída dos seres humanos de uma tutelagem que estes mesmos se impuseram a si. Tutelados são aqueles que se encontram incapazes de fazer uso da própria razão independentemente da direção de outrem. É-se culpado da própria tutelagem quando esta resulta não de uma deficiência do entendimento mas da falta de resolução e coragem para se fazer uso do entendimento independentemente da direção de outrem. Sapere aude! Tem coragem para fazer uso da tua própria razão! - esse é o lema do iluminismo

Sem dúvidas, o movimento tem reflexos ainda nos dias de hoje. Não é à toa que uma frase célebre e conhecida mundialmente é ainda hoje proferida por muitos: “Penso, logo existe” de René Descartes. Essa frase é senão a chave de abertura do movimento como manifestação intelectual, afinal tira o homem do lugar de marginalidade e o coloca em posição privilegiada. Esse movimento de para fora do homem é o início do progresso que tanto o movimento vai pregar. O homem não mais é refém de suas próprias projeções. A ideia de Século das Luzes pauta-se nisso: o homem é livre e capaz de tecer seus próprios interesses. Assim, pensar em Luz como sinônimo da quebra do homem com aquilo que lhe era imposto para, agora, refletir e ter poder sobre suas próprias reflexões e escolhas faz total sentido.
O iluminismo é declaradamente um movimento intelectual, tanto o é que dentre os pensadores da época encontramos Voltaire, René Descartes, Immanuel Kant, Jean-Jacques Rousseau, Montesquieu, Denis Diderot, Jean Le Rond d´Alembert, John Locke.

John Locke (1632-1704), ele acreditava que o homem adquiria conhecimento com o passar do tempo através do empirismo;
Voltaire (1694-1778), ele defendia a liberdade de pensamento e não poupava crítica à intolerância religiosa;
Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), ele defendia a ideia de um estado democrático que garanta igualdade para todos;
Montesquieu (1689-1755), ele defendeu a divisão do poder político em Legislativo, Executivo e Judiciário;
Denis Diderot (1713-1784) e Jean Le Rond d´Alembert (1717-1783), juntos organizaram uma enciclopédia que reunia conhecimentos e pensamentos filosóficos da época.
Immanuel Kant (1724-1804) - importante filósofo alemão, desenvolveu seus pensamentos nas áreas da epistemologia, ética e Metafísica.

Como podemos observar, todos esses filósofos pregavam um estado decentralizado e, em certa medida, questionavam o poder da igreja. O antropocentrismo e a razão eram a base política do movimento. É importante ressaltar, nesse sentido, a importância do Renascimento na mudança que a Europa passava desde o século XVI até o final do Iluminismo.

RENASCIMENTO

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/2/22/Da_Vinci_Vitruve_Luc_Viatour.jpg/800px-Da_Vinci_Vitruve_Luc_Viatour.jpgO Renascimento é um período histórico da Europa entre os séculos XVI e XVIII (há controvérsias acerca dessa datação) que tem evidentes mudanças na culturasociedadeeconomiapolítica e religião, uma vez que marca a transição do Feudalismo para o Capitalismo na Europa. Iniciou-se na cidade de Toscana, na Itália.
O Renascimento tem seus ideais fundamentados no humanismo. “O humanismo afirma a dignidade do homem e o torna o investigador por excelência da natureza.” (Wikipédia). A imagem a seguir marca bem essa transição europeia que tira a igreja e Deus do centro de tudo e coloca o homem como protagonista das ações sociais.

O Homem Vitruviano de Leonardo da Vinci é um desenho famoso que acompanhava as notas feitas pelo artista por volta do ano 1490 num dos seus diários. Descreve uma figura masculina nua separada e simultaneamente em duas posições sobrepostas com os braços inscritos num círculo e num quadrado.[1] A cabeça é calculada como sendo um oitavo da altura total. Às vezes, o desenho e o texto são chamados de Cânone das Proporções.
O desenho atualmente faz parte da coleção da Gallerie dell'Accademia (Galeria da Academia) em Veneza, Itália.
Examinando o desenho, pode ser notado que a combinação das posições dos braços e pernas formam quatro posturas diferentes. As posições com os braços em cruz e os pés são inscritas juntas no quadrado. Por outro lado, a posição superior dos braços e das pernas é inscrita no círculo. Isto ilustra o princípio que na mudança entre as duas posições, o centro aparente da figura parece se mover, mas de fato o umbigo da figura, que é o verdadeiro centro de gravidade, permanece imóvel.

A igreja também passará, nessa época, por mudanças marcantes. Martinho Lutero é o ícone da vez com a Reforma Protestante, século XVI. Já pela datação percebemos que as mudanças na Europa se dão em todos os setores. E na religião não seria diferente. A igreja, principalmente a católica, nesse momento, passará por um período de conflitos, pois Lutero, em 95 teses, vai protestar contra o panorama doutrinário da Igreja Católica Romana. Isso culminará, fatalmente, no movimento de Contrarreforma promovido pela Igreja Católica.
Dentre os questionamentos de Lutero, estão...

1.       Os conflitos políticos entre autoridades da Igreja Romana e governantes das monarquias europeias, tais governantes desejavam para si o poder espiritual e ideológico da Igreja e do Papa, muitas vezes para assegurar o direito divino dos reis;
2.       Práticas como a usura eram condenadas pela ética católica romana, assim a burguesia capitalista que desejava altos lucros econômicos sentiria-se mais "confortável" se pudesse seguir uma nova ética religiosa, adequada ao espírito capitalista, necessidade que foi atendida pela ética protestante e conceito de Lutero de que o homem é justificado pela fé, sem as obras da lei (Romanos 3:28) (Sola fide); Algumas causas econômicas para a aceitação da Reforma foram o desejo da nobreza e dos príncipes de se apossar das riquezas da igreja romana e de ver-se livre da tributação papal que, apesar de defender a simplicidade, era a instituição mais rica do mundo. Também na Alemanha, a pequena nobreza estava ameaçada de extinção em vista do colapso da economia senhorial. Muitos desses pequenos nobres desejavam as terras da igreja. Somente com a Reforma, estas classes puderam expropriar as terras;
3.       Durante a Reforma na Alemanha, autoridades de várias regiões do Sacro Império Romano-Germânico pressionadas pela população e pelos luteranos, expulsavam e mesmo assassinavam sacerdotes católicos das igrejas,substituindo-os por religiosos com formação luterana;
4.       Lutero era radicalmente contra a revolta camponesa iniciada em 1524 pelos anabatistas liderados por Thomas Münzer, que provocou a Guerra dos Camponeses. Münzer comandou massas camponesas contra a nobreza imperial, pois propunha uma sociedade sem diferenças entre ricos e pobres e sem propriedade privada, Lutero por sua vez defendia que a existência de "senhores e servos" era vontade divina, motivo pelo qual eles romperam.[16] Lutero escreveu posteriormente: "Contras as hordas de camponeses (...), quem puder que bata, mate ou fira, secreta ou abertamente, relembrando que não há nada mais peçonhento, prejudicial e demoníaco que um rebelde".
(WIKIPEDIA)

Os três movimentos, datados entre os séculos XVI e XVIII, marcam sem dúvida mudanças mundiais em muitos setores. Num primeiro momento o poder está centralizado e tudo é divinamente inspirado; num outro, a relação entre Deus e Homem passam a ser questionadas. Para a sociedade, as mudanças trazidas pelos movimentos, de certa forma, são benéficas, visto que todas tiram a centralidade do poder e coloca na mão de cada indivíduo comum o controle mais direto de tudo ao seu redor. O homem pôde produzir para si mesmo; acessar o conhecimento; participar das decisões.


 REFERENCIAS
SHEEHAN, Jonathan. The Enlightenment Bible. Princeton University Press: 2005. p. 1-25
- http://www.portalconscienciapolitica.com.br/filosofia-politica/filosofia-moderna/o-principe/
- http://materiasvestibulando.blogspot.com.br/2010/01/renascimento-iluminismo.html
- https://pt.wikipedia.org/wiki/Humanismo
- https://pt.wikipedia.org/wiki/Iluminismo
- https://www.significados.com.br/iluminismo/
- http://www.suapesquisa.com/historia/iluminismo/
- https://pt.wikipedia.org/wiki/Reforma_Protestante

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